Licores Moreninha

Sabores nascidos de um infortúnio e que hoje dão, um aroma diferente à vida

E neste caso poderemos muito dizer, a uma nova vida, a de Maria Augusta Cavaco.

Natural do Concelho de Mértola, em tempos que já lá vão, partiu rumo à grande Lisboa, mais precisamente a Cascais.

Foi numa casa de móveis que trabalhou, até ao dia em que o infortúnio “lhe bateu à porta”. Um grave acidente, que lhe provocou múltiplas fracturas num dos braços. Desesperada pensou que nunca mais voltaria a trabalhar. Era a incerteza de um futuro que parecia cada vez mais sombrio, a ansiedade incessante, causada pela situação do “e agora o que é que eu faço”, sempre presentes no pensamento.

Um pensamento, onde também as memórias “menos más” estavam presentes, que ajudaram, em parte, a colmatar a angústia. E foi graças a estas que o negócio que hoje tem (ainda com sede em Cascais, mas num futuro próximo no Concelho de Mértola) nasceu e cresceu.

“Lembro-me de ver as vinhas dos meus patrões e principalmente da ginja. Aliás de todos os licores que hoje fabrico, ela (a ginja) é a minha preferida, pois ninguém a faz como eu”

E foi a partir daí, dessa mesma memória, que jogou mãos à obra e a sorrir confessou-nos “Até foi só uma, porque a outra não mexia”

A internet foi outros dos grandes aliados de Maria Augusta Cavaco, era através da “rede”, que pesquisava as receitas para as suas experiências, mas estas receitas serviam apenas de base, pois as mesmas eram alteradas e feitas à sua maneira.

“As minhas cobaias nessa altura, eram os meus patrões. Provavam e aconselhavam… coloca menos ou mais açúcar, adiciona ou diminui o álcool.”  Até que chegou o dia em que os “provadores” lhe disseram “está no ponto, vai vender”.

E a venda começou em 2011, depois de um processo moroso de legalização, considera Maria de Lurdes Cavaco. O habitual “passa palavra”, os amigos e conhecidos foram o primeiro público (ou clientes) alvo, seguiram-se as feiras tradicionais, vocacionadas para este tipo de produção. O volume do fabrico e de vendas aumentou e o negócio exigia mais tempo e dedicação.

“Eu e o meu marido fomos forçados a abandonar outras tarefas que exerciamos, as 24 horas do dia não chegavam e muitos dos mercados realizavam-se à sexta feira. Tinham de ser feitas opções, e fizemos, os Licores”., confidenciou-nos, com orgulho espelhado no rosto.

A propósito do nome (e sempre bem disposta do início ao fim desta entrevista, com um sorriso estampado no rosto) Maria de Lurdes Cavaco confessou: “Vou dizer aqui, aquilo que digo sempre nas feiras e aos meus clientes, antes que me façam a pergunta. Não sou morena, nem lá perto, aliás pode ver com os seus próprios olhos. O nome surgiu numa noite, como tantas outras, mal dormida, em que a cabeça dava voltas, para encontrar um nome que caracterizasse o produto. E foi aí que então se “fez-se luz”. Ora se eu sou da Morena, porque não Moreninha? E assim foi.”

No seguimento da nossa conversa, onde o presente, o passado e o futuro se iam cruzando, Maria de Lurdes Cavaco entre suspiros por vezes profundos, de memórias, por um lado, com sentimento a “dor”, por outro, de alivio lá desabafou: “Se este acidente, menos bom e doloroso, na minha história de vida, não tivesse ocorrido, nunca teria descoberto os licores que hoje e para mim são uma verdadeira paixão e se pudesse voltar atrás, teria começado logo na minha adolescência. Não hesitava, nem olhava duas vezes para trás”

Atualmente são 15 os sabores que Maria de Lurdes Cavaco produz, todos eles de fabrico artesanal. A produção é feita em Cascais, mas num futuro, não muito distante e se tudo correr como previsto, começará a ser produzido no Concelho de Mértola.

Já entrevista ía longa e a pergunta era inevitável.

E o futuro, que “sonhos saborosos“ gostaria que a vida lhe proporcionasse? Após um curto silêncio, a resposta. “Que a minha filha, que vive hoje em dia em Palma de Maiorca dê continuidade ao meu sonho e projeto, para que os Licores Moreninha, não se percam nem no tempo, nem no paladar de todos nós”.

Date:

Abril 5, 2021